sábado, 8 de maio de 2010

isto!

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)

3 comentários:

  1. Fizeste-me reactivar o hi5 para ir ver o teu, é preciso que se note que me estás a dever uma :p
    Agora a sério: não sou tua amiga no hi5, mas quase que aposto que conheço aquela cara ali do teu cabeçalho :p deve ser de lá. :) *

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  2. Mandei pedido de amizade :) É, eu já vi a tua cara (a) não tinhas no hi5 o nome de Mémmz (ou lá como era xD) eu sei q fomos amigos no hi5, portanto a minha memória fotográfica não me atraiçoou :p

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